Nos anos
80, o Legião Urbana, uma banda de pop-rock, fez grande sucesso. Suas músicas
tinham um forte cunho social, afirmando a potencialidade da juventude e
confrontando as realidades nacionais da época. Contudo, elas também traziam
reflexões profundas sobre as relações das pessoas consigo mesmas, família e com
o mundo ao seu redor.
Entre as
muitas composições do vocalista Renato Russo, destaco uma frase que nos faz
pensar sobre o rumo dos nossos relacionamentos, o nível de intimidade que á
muito se perdeu e o preço que nosso universo interior tem pago por não
conhecermos aqueles que deveriam ser os mais próximos de nós.
"São crianças como
você, o que você vai ser quando você crescer..."
Eu não
esperei que alguém viesse me perguntar se eu conheço meu pai. Não espere por
isso.
Faça essa
pergunta a si mesmo. Se sua resposta for "sim", afirmo que isso pode
marcar o início de um caminho livre, cheio de possibilidades, recursos,
afirmações, sucesso e segurança. E, além disso, proporcionará uma alegria
imensa, trás conhecimento.
Por outro
lado, se a resposta for "não", posso afirmar com convicção: você nem
mesmo se conhece!
A
intimidade existe para ser compartilhada com pessoas autorizadas, e para que
isso aconteça, a liberdade e o acesso precisam ser mútuos. Não adianta viver
com atitudes como “vai que eu vou” ou “deixa que eu deixo”. Não há confiança
nisso. E, quando falamos de confiança, ela é a chave esplendorosa que abre as
portas da intimidade.
Vivemos
tempos em que qualquer chave parece capaz de abrir as portas da intimidade!
Chaves
sujas, enferrujadas, tortas. E os portadores dessas chaves, além de não
entenderem o que estão acessando, muitas vezes sequer percebem o valor do
acesso que estão recebendo.
Como
podemos entregar uma chave tão poderosa a quem mal conhecemos? Como podemos
permitir que qualquer chave abra nossas virtudes, sonhos e desejos mais profundos
e preciosos?
Voltemos
aos nossos pais — homens e mulheres que, de maneira sutil, mas perceptível,
desejam nos entregar suas chaves. Eles querem que, ao entrar em seus universos,
possamos também confiar e entregar as nossas chaves.
Pais e
mães que, silenciosamente, anseiam por serem conhecidos para que possamos,
assim, nos deixar conhecer. Esse processo começa desde a concepção, quando
gametas, masculino e feminino, se unem, e o Criador acompanha cada detalhe
desse maravilhoso e inexplicável processo, pois é o autor desse projeto.
Ali, já existe propósito, a criação de uma
pessoa, um propósito verdadeiro e conclusivo, alguém que fora sonhado e amado.
Não
costumo ser explícito, porque acredito no potencial de cada pessoa e quero
estimular esse potencial. Não cito nomes porque cada um tem sua história. E não
digo que tudo isso é uma utopia, pois, como ensinam as leis da física, para
cada ação há uma reação.
Assim,
comece avaliando com cuidado para quem você tem dado livre acesso ao seu
interior. E procure, de fato, quem realmente merece esse acesso em primeiro
lugar.
Novamente,
surge a pergunta que não pode ficar sem resposta e a reflexão do que deve ser feita hoje, para
que essas chaves comecem a ser forjadas
e ou restauradas para que possam ser e usadas da maneira sábia e verdadeira.
Antes de
mim, quem são? Como viveram? Quais sonhos tinham e quais ficaram guardados?
Não seja
superficial!
Pense nessas pessoas que são responsáveis pela sua existência. Pergunte sobre elas, suas alegrias, prazeres, decepções, acertos e erros. Deixe que, antes de fazerem parte da sua vida, sejam a essência dela.
Dê espaço para esse universo!
Depois
disso, aproxime-se. Apresente suas chaves, e eles entenderão que você também
deseja as deles.
No final,
você perceberá que somos, como diz a música, crianças. Mas agora, carregando a
sabedoria necessária para que as próximas gerações não precisem mais de chaves,
pois não haverá portas que separem pais e filhos.
Elizeu
Oliveira – 23/11/2024
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