sábado, 23 de novembro de 2024

ENTRE NÓS

 


Nos anos 80, o Legião Urbana, uma banda de pop-rock, fez grande sucesso. Suas músicas tinham um forte cunho social, afirmando a potencialidade da juventude e confrontando as realidades nacionais da época. Contudo, elas também traziam reflexões profundas sobre as relações das pessoas consigo mesmas, família e com o mundo ao seu redor.

Entre as muitas composições do vocalista Renato Russo, destaco uma frase que nos faz pensar sobre o rumo dos nossos relacionamentos, o nível de intimidade que á muito se perdeu e o preço que nosso universo interior tem pago por não conhecermos aqueles que deveriam ser os mais próximos de nós.

"São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer..."

Eu não esperei que alguém viesse me perguntar se eu conheço meu pai. Não espere por isso.

Faça essa pergunta a si mesmo. Se sua resposta for "sim", afirmo que isso pode marcar o início de um caminho livre, cheio de possibilidades, recursos, afirmações, sucesso e segurança. E, além disso, proporcionará uma alegria imensa, trás conhecimento.

Por outro lado, se a resposta for "não", posso afirmar com convicção: você nem mesmo se conhece!

A intimidade existe para ser compartilhada com pessoas autorizadas, e para que isso aconteça, a liberdade e o acesso precisam ser mútuos. Não adianta viver com atitudes como “vai que eu vou” ou “deixa que eu deixo”. Não há confiança nisso. E, quando falamos de confiança, ela é a chave esplendorosa que abre as portas da intimidade.

Vivemos tempos em que qualquer chave parece capaz de abrir as portas da intimidade!

Chaves sujas, enferrujadas, tortas. E os portadores dessas chaves, além de não entenderem o que estão acessando, muitas vezes sequer percebem o valor do acesso que estão recebendo.

Como podemos entregar uma chave tão poderosa a quem mal conhecemos? Como podemos permitir que qualquer chave abra nossas virtudes, sonhos e desejos mais profundos e preciosos?

Voltemos aos nossos pais — homens e mulheres que, de maneira sutil, mas perceptível, desejam nos entregar suas chaves. Eles querem que, ao entrar em seus universos, possamos também confiar e entregar as nossas chaves.

Pais e mães que, silenciosamente, anseiam por serem conhecidos para que possamos, assim, nos deixar conhecer. Esse processo começa desde a concepção, quando gametas, masculino e feminino, se unem, e o Criador acompanha cada detalhe desse maravilhoso e inexplicável processo, pois é o autor desse projeto.

 Ali, já existe propósito, a criação de uma pessoa, um propósito verdadeiro e conclusivo, alguém que fora sonhado e amado.

Não costumo ser explícito, porque acredito no potencial de cada pessoa e quero estimular esse potencial. Não cito nomes porque cada um tem sua história. E não digo que tudo isso é uma utopia, pois, como ensinam as leis da física, para cada ação há uma reação.

Assim, comece avaliando com cuidado para quem você tem dado livre acesso ao seu interior. E procure, de fato, quem realmente merece esse acesso em primeiro lugar.

Novamente, surge a pergunta que não pode ficar sem resposta e  a reflexão do que deve ser feita hoje, para que essas chaves comecem  a ser forjadas e ou restauradas para que possam ser e usadas da maneira sábia e verdadeira.

Antes de mim, quem são? Como viveram? Quais sonhos tinham e quais ficaram guardados?

Não seja superficial!

Pense nessas pessoas que são responsáveis pela sua existência. Pergunte sobre elas, suas alegrias, prazeres, decepções, acertos e erros. Deixe que, antes de fazerem parte da sua vida, sejam a essência dela. 

Dê espaço para esse universo!

Depois disso, aproxime-se. Apresente suas chaves, e eles entenderão que você também deseja as deles.

No final, você perceberá que somos, como diz a música, crianças. Mas agora, carregando a sabedoria necessária para que as próximas gerações não precisem mais de chaves, pois não haverá portas que separem pais e filhos.

 

Elizeu Oliveira – 23/11/2024

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