Existem vários, mas hoje em homenagem
a uma grande amiga gostaria de falar sobre o cantinho escuro das caixinhas.
A manha já não estava muito legal, a
cor branca pálida da sua normalidade estampada de forma bem forte, e aquele jeito
séria e ao mesmo tempo inflamado no rosto dizia que o dia não seria dos
melhores...
A pergunta sempre vem e para nós profissionais
do ramo farmacêutico é uma resposta fácil e ao mesmo tempo difícil de
responder.
O que fazemos quando estamos doentes?
Pra onde vamos quando não estamos bem fisicamente? A quem recoremos?
As pessoas de modo geral têm um
pensamento sobre nós que trabalhamos em farmácias e drogarias, que sabemos de
tudo e que podemos resolver todos os problemas de saúde das pessoas, claro, tem
também aqueles que acreditam fielmente que somos médicos disfarçados de balconistas
e farmacêuticos...
Doce engano!
E será mesmo?
Às vezes estamos sobrecarregados e o
dever gerado em nós pela cobrança das pessoas de sempre termos as respostas e indicações
precisas e perfeitas nos deixam reféns de deveres e situações as quais muitas
vezes não conseguimos suportar, isso acaba gerando em nós um nível de stress
tão alto que passamos a nos ver de uma forma incorreta. Isso nos faz tomar decisões
e atitudes que vão alem de nossas reais forças, entendimentos e razões...
Dias que chagamos na farmácia e a
primeira coisa que acontece, transformamos.
Depois passamos para ouvidores sem causa...
Amigos imaginários, parceiros de
trabalhos...
Algumas vezes dormimos com eles e
acordamos com eles, suas vidas intimas e pessoais são para nós livros e mais se
parecem contos de fadas...
Terror ou filme policial tem de tudo.
Situações e estórias que se não interrompe-los ficam todo o nosso período de
trabalho ali, falando, falando e falando.
Se de repente surgisse a pergunta: Se
nos tirasse isso, sentir-mos-ia falta? Sou capaz de dizer que não sei!
O não sei é realmente para soar como
não sei mesmo, pois acostumamos com pessoas e suas situações, anseios, dores,
falhas, enfermidades, sonhos, inflamações, saudades, cólicas, separações, idas
e vindas...
E essa passa ser nossa vida...
Então alguns dias, como já estava
dizendo chegamos assim meio que moribundos, precisando daqueles profissionais
de farmácia citados e não os encontramos, as dores vem, o cansaço, a enxaqueca...
Medicamento não são problemas, todos
os que tínhamos e poderíamos já foram ingeridos e nada...
Talvez seja físico...
Talvez a alma...
Mas a dor vem, fica, fica e não
mostra nenhum sinal de partida...
Então o que me resta é ir para um único
lugar que poderia talvez me servir de alento...
Uma sala pequena, cheia de
medicamentos tarjados e controlados, escura e com uma pequena tela de computador
acesa...
Ali, a super farmacêutica tentando
não pensar...
Não pensar na dor...
No tempo que ainda lhe resta para
concluir sua jornada de trabalho...
Na família...
A dor não a deixa pensar, os amigos,
colegas tentam animar, mas a sala escura...
Ainda é o, melhor lugar...
O tempo passa e nada.
Devo ir, quem sabe amanha eu volto,
sem dor, sem choro sem o desejo de ficar só...
Talvez eu volte, restaurada, na
verdade branca como sempre, exigente como sempre e farmacêutica como sempre...
Amanhã eu volto, mas com a certeza de
que sou humana, frágil e se caso precise...
Volto para meu cantinho escuro das
caixinhas!
Elizeu B. Oliveira
21/04/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário