Há dias que o simples mover de uma
folha seca, já bem desbotada e abandonada no chão tem o poder de um tsunami e
esses dias são aqueles que se tem que calar, fechar os olhos e lembrar que tudo
nessa dimensão terrena tem começo e fim...
Dias que como diz o ditado popular de
ter comido o filhote no ninho.... Não, dias em que o próprio filhote deveria
ter se salvado sabotando-se a si mesmo e nem comparecido na maternidade...
Tempos em que se percebe que não
existe tempo suficiente para deixarmos de ser imaturos, pequenos, insensatos e
sobre tudo, rebeldes por não conhecer de fato nada e de maior agravante a
certeza que voltaremos ao pó tão incapazes e desprovidos de sabedoria como
chegamos nesse mundo.
Qual melhor idade para entendermos
que tudo isso aqui é uma tremenda ilusão?
Quanto tempo será necessário para
aceitarmos que nada iremos entender da tão longa breve vida de incapacidades?
Quantos dias serão necessários para
que possamos ser provados que nada é nosso e que tudo apodrece?
Será melhor viver menos para reduzir
a quantidade de decepções em pensar que há grandes homens ou mulheres no nosso
meio?
Que brisa fria e incomodativa aquela
que sai das entranhas dos afortunados que no primeiro momento gera prazer e no
final uma inveja mortal a ponto de nos transferir a mente e sonhar com corpos
que não nos pertencem?
Que vida longa e cansativa por sempre
e sempre correr e correr atrás do vento e a cada posse, a cada conquista nos
distanciarmos do sentimento de contentamento e descanso.
Um dia como filhos fomos ingratos,
soberbos, inconstantes e cruéis...
Um dia como pais sofremos com a
sombra da incapacidade de não ter superado as expectativas...
Um dia como filhos cegos para o que
ao nosso redor, bem pertinho está...
Um dia como pais, não lembrando de
como éramos ingratos e rudes como filhos...
Um dia como filhos e ver que a melhor
vida era a dos amigos, primos e qualquer outro...
Um dia como pais a vontade de saber
que imputou tamanha responsabilidade em nós...
Um dia como filhos sonhar com um
mundo perfeito e que a casa, a família a qual pertence não é a sua e que era
merecedor de algo melhor...
Um dia como pais levantando todos os
dias, com dor, fraco, triste e abatido porem indo atrás de mísero
salario para dar o que nunca desejou...
Um dia como filhos sonhando que tudo será
diferente quando adultos e quando forem pais...
Um dia como pais a ponto de abandonar
tudo até mesmo a própria vida por não dar a cada um o que almejam e sonham...
Um dia como filhos esquecendo de ver
o quão agradável e indispensável saber que pelo menos existe um sentimento de
proteção mínima pela via vida...
Um dia como pais tentando encontrar
força e saber para não deixar o leme, a direção e o cuidado.
Mas o tempo passa, para pais e
filhos...
Pais continuam imaturos, não sabem
como se defender das ofensas e ingratidão dos filhos...
E os filhos com olhos altivos e
narizes empinados iludidos com o que veem nas telas, shopping centers, vidas
de amigos... porem esquecendo-se de que o dia a dia, a vivencia é de fato a máxima
da realidade nua e crua...
Agora, nada se tem a fazer...
As tardes de lazer, os filmes e
series assistidas juntos, os pratos e temperos, as noites de grandes
temporais...
As nuances, as transformações e tudo
o que se viveu e relacionou se desfaz como poeira e nada se pode fazer...
Pais e filhos não se entendem, se
julgam sempre superiores e detentores de toda a razão...
E toda a calma, a paciência, o prazer
de estar juntos, o risco de segredos revelados, as crenças e desavenças, tudo
não passa de pó.
E o que se ouve?
Deixa rolar!!!
Tudo passa, o tempo agora e sempre o grande maioral, ele resolve todos os problemas...
E o tempo passa, e tudo acaba
escorrendo para debaixo do capacho da entrada do coração...
As doenças chagam, as lamurias também...
As incertezas invadem as trincas e as
fissuras passam a fazer parte da ornamentação...
O que era belo com base na liberdade,
hoje é plástico com base na frase que diz que tudo passa...
No final das contas meus 84 anos
chegarão e com a certeza que menos preparado estarei, manos sábio serei e que
se nada for feito isso tudo será uma realidade e que toda a arte escrita sairá
do papel e vida terá para fazer parte de uma lei onde todos seremos seres ocos,
sem vida movidos pela fúria de sempre e sempre querer algo e ter algo para
suprir e fazer painel para um mundo de outros seres ocos com as mesmas motivações
sem saber o porquê.
Assim, não há alegria, não existe
pessoas felizes...
O natural tornou-se catastrófico, e o
que é belo tem que ser maquiado...
Se temos, estamos anestesiados e
vivendo uma realidade virtual e um mundo perfeito...
Porem se nada temos, somos desprezíveis,
descartáveis e infelizes...
Então continuemos olhando para além,
sem desistir nunca de conseguir algo, e manter algo e ajuntar mais ainda para
chegar no final de nossos dias e ver que acertamos em cheio em não ter dado o
devido valor ao que realmente tem valor.
Elizeu B. de Oliveira
09/01/2020
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